17.11.14

interstellar


 Jessica Chastain, Christopher Nolan, Matthew McConaughey & Anne Hathaway for The Hollywood Reporter by Ruven Afanador 


Baseado nas teorias do astro-físico Kip Thorne, Interstellar não é só mais um filme de ficção-científica. Para tentar perceber a narrativa, devemos entrar na sala de cinema com a certeza de que tudo tem um significado. São 169 minutos de informação e nada escapa. A banda sonora, os diálogos, as ações das personagens, a vertente humorística. Não se compreendem todos os pormenores do filme à primeira visualização, sobretudo porque não é dado muito a conhecer, e ainda bem, tanto no trailer como na restante publicidade ao mesmo. Sabe-se apenas de antemão que é-qualquer-coisa-espacial. Um homem do futuro, talvez próximo, talvez longínquo, que vai tentar salvar a espécie humana, movido pelo amor aos filhos. Se pensarmos bem, até aqui não há nada que já não tenha sido explorado no cinema: heróis espaciais, fim-do-mundo, histórias de amor entre pais e filhos. Com esta informação pode até parecer um filme um tanto lamechas, monótono ou pouco ambicioso, mas é aqui que entra a genialidade de Christopher Nolan. 
Este filme é uma verdadeira jornada. Uma odisseia. Tem como premissas dois fatores inatos: o instinto de sobrevivência e a capacidade humana de amor ao próximo. Sabemos que é ficção e no entanto Nolan tem a capacidade de nos fazer questionar sobre a possibilidade de tudo o que estamos a ver. Facilmente damos por nós a pensar nos problemas ambientais que enfrentaremos devido às nossas próprias ações, ao nosso modo de vida. Facilmente damos por nós a pensar que talvez um dia, certamente não no nosso tempo de vida, mas ainda assim um dia, só a ciência será capaz de nos salvar. Facilmente damos por nós a pensar que sabemos muito pouco do que está para lá da imensidação de estrelas que existe por cima das nossas cabeças.
A música é de Hans Zimmer e é magistral. Funciona quase como uma extensão daquilo que estamos a ver. Gostei especialmente da simbiose perfeita entre a valsa e o movimento circular da nave espacial a entrar em órbita logo no início da segunda de três partes, se assim o quisermos dividir. De resto, em todo filme há o contraste evidente entre o clássico e o futurista, entre o rudimentar e a ciência mais avançada, entre um agricultor e um astronauta.
Dos atores principais, Matthew McConaughey, Anne Hathaway e Jessica Chastain, pouco há a referir. Como ouvi o próprio diretor a dizer numa entrevista, são atores de excelência, people at the top of their game. Mackenzie Foy, a novidade, e Jessica Chastain são perfeitas a interpretar a mesma pessoa em diferentes fases da sua vida. E para McConaughey, Nolan criou uma personagem (que por sinal ele interpreta com muita classe, como aliás vem sendo seu hábito) a fazer lembrar subtilmente a Era de Ouro de Hollywood, pela forma como fala e pelos próprios maneirismos. Cooper, a personagem principal, parece uma mistura entre um cowboy do faroeste, um galã ao melhor estilo Clark Gable e um astronauta que é sobretudo um pai de família. A própria edição e muitos dos cenários parecem ter saído de um filme antigo e não de um tempo futuro. Para além disso, todas as personagens estão incrivelmente seguras do seu conhecimento e ao mesmo tempo com o espírito aventureiro de alguém que anseia por saber mais e mais. Quase como se fossem exploradores da época dos descobrimentos, só que em vez do mar, vão explorar o espaço. A questão é: será que um dia vai ser tão fácil velejar um barco em alto mar como voar numa nave espacial para outra galáxia? E é aqui que percebemos sem perceber a parte da ação do filme num tempo futuro.
Como escrevi no início, não é fácil perceber todos os aspetos do filme, sobretudo a parte científica demasiado complexa para o comum mortal, e não é isso o mais importante. Este é um filme sobre o nosso planeta, sobre a poluição ambiental, sobre astronautas, cientistas e gravidade, sobre mundos novos. Este é um filme sobre o Amor. O Amor em todas as suas variáveis e essa mensagem passa na perfeição. Porque tal como Nolan ensina, o Amor é a única força a par da gravidade que transcende o tempo, as dimensões, o espaço. Não temos ainda uma explicação científica para a sua existência, se calhar nunca vamos ter, mas sabemos que é uma arma capaz de mover montanhas e que nos vai ajudando a avançar enquanto espécie. E só por isso tem que significar alguma coisa.

Love isn’t something we invented. It’s observable, powerful, it has to mean something... Love is the one thing we’re capable of perceiving that transcends dimensions of time and space.

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